sábado, 28 de setembro de 2019

Olhos Tristes

Era um dia nublado. Eu a encontrei. 
Andava pela rua, cheia de gente de um lado para o outro, em uma grande metrópole. 
Eu ia. Ela vinha. Tudo parecia andar em câmera lenta. O tempo diminuía. 
Não sei porque meus olhos olharam aquela menina, garota, mulher. Eu a conhecia. Mas não me lembrava.
Ela se aproximava. Eu ficava ainda mais intrigada. De onde a conhecia?
Sua feição me era familiar. Algo não me deixava lembrar.
O tempo parecia flutuar.
Ela vinha. Eu ia.
Eu sentia que ela era muito próxima a mim. Extremamente familiar!
Conforme se aproximava meu peito palpitava.
Queria me lembrar, mas não conseguia. 
Fixei meus olhos nela, que não me olhava, forcei minha mente a recordar.
Tentava... tentava me lembrar... 
Sim!!! Eu a conhecia! Conhecia muito bem! Era uma velha conhecida!
Mas algo estava diferente, às vezes ela nem parecia a mesma pessoa.
O que mudou? 
Seu olhar era vago. Mas havia um brilho no fundo, apesar de triste. Olhava no horizonte, mas parecia não enxergar nada.
O que estava diferente?
Estava mais velha?
Mais magra?
Mais gorda?
Não! Algo mudou! Mas não sabia dizer...!
Os passos lentos eram dados e nós nos aproximavamos cada vez mais.
O que mudou?
O que mudou???
Ah... sim!!!
Seus olhos!
Seus olhos estavam caídos, tristes! Não o olhar, apesar de quase sem vida, mas seus olhos!
A pálpebra pendia para baixo.
Lembro-me de seus olhos há um tempo. Eram vivos, cheios de vida. Ela passou por muita coisa antes, mas seus olhos não caíram. A pele entre os olhos e as sobrancelhas não se curvavam para baixo antigamente. 
Agora sim. Eles estavam para baixo.
Meu peito foi tomado por profunda tristeza. Aquela menina, que eu conhecia há tanto tempo, sofria. A ponto de seus olhos caírem! 
O que houve de tão grave para isso?
Meu Deus! Que provações ela passou?
Teria como reverter? Seus olhos poderiam levantar-se? 
Seu sofrimento parecia mudo. Calado. Doi sofrer e não falar ou não ser ouvida. Esse poderia ser seu mal.
Queria, profundamente, poder ajudá-la!
Ela finalmente passou por mim. Continuava transportada para outra dimensão. Nada a sua volta importava.
Pude olhar pra ela de perto, em câmera lenta, mas eu estava tomada por alguma energia que me movia para frente e não pude parar ou indagar. 
Quando ela passou por mim meu rosto virou-se sozinho. Não tinha domínio sobre o meu corpo. 
Continuei meu caminho. E ela o dela.
O tempo voltou ao normal. Todo o barulho, a correria. Só consegui virar-me e vê-la ir embora. Ela continuava a andar lentamente. 
O que houve com aquela menina?
O que houve com seus olhos?
Seus olhos tristes e caídos me tocaram a alma e eu nunca mais fui a mesma!


Gabriela Grecco 
28/09/19