É incrível como às vezes somos crucificadas por dizer verdades nunca ditas. Pessoas que se arriscam a tanto pagam seu preço; e quanto maior sua luta e sua verdade mais obscura, maior a revolta dos outros e as consequências para si.
Quando tudo vai bem para quem sempre governou os outros, não há o que temer. Mas quando um império começa a cair, quem ficava quieto não mais suporta a pressão e faz soar a voz que tantas vezes se abafou, o medo da perda do reinado se instaura; pior do que isso, as verdades ditas, escancaradas entram, como chumbo na pele, nos ouvidos de quem ouve e que sempre se fez ouvir das mais dolorosas formas. Aquele que sempre sofreu, nada falou, engoliu, não digeriu, perdeu noites, dias, horas, meses atordoado... é crucificado, massacrado, dilacerado... às vezes da forma mais sutil, outras nem tanto. Mas que diferença faz, afinal ele sempre o foi, mas calado.
É certo que ditadores são ótimos fascinadores, mas muito mais que isso, são fascinados. Encontram, mesmo que inconscientes de sua ditadura e táticas, formas de denegrirem a imagem de quem lhe mostrou sua pior face ou ameaçou seu império. Com isso, tantos outros levam a culpa por seus atos e os principais responsáveis nada levam de responsabilidade. Muitos brigam, se matam por alguém assim, mas se massacram sem que sua luta seja por uma causa própria, às vezes nem sabem porque estão brigando, simplesmente brigam.
Esse ditadores que me refiro não são Hittler, Stalin, etc, mas pessoas comuns: Pais, mães, filhos, irmãos, primos, chefes, colegas de trabalho, vizinhos... Quantos anos de nosssas vidas vivemos suportando uma situação pra não ter de sofrer a tortura por não se calar? Mas qual dor é maior, a da situação sempre vivida ou a da rejeição de alguém que não merece nossa preocupação?
Pagamos por não mais nos calar. Somos tratados como coisas; torturados psicologicamente, fisicamente, emocionalmente; nos sentimos lixo algumas vezes, mas no nosso íntimo sabemos que estamos certos e de certa forma aliviados.
Não há coisa pior que uma pessoa que fala o que quer, é estúpida ao extremo, mas que não aceita um A de ninguém.
Eu percebi que essas pessoas quando sentem seu reinado ameaçado e sentem que suas táticas não mais funcionam, elas vão direto onde podem comover outras em seu favor ou até mesmo nos fazer sentir-se mal. Por exemplo, quando alguém que é movido pelas palavras grosseiras, tom de voz exagerado e bruto, vê que essa tática não mais funciona ou porque o outro respondeu da mesma forma ou porque não se intimida mais, sua estratégia é ir pelo lado sentimental. Daí a vítima passa a ser quem chora por ouvir a verdade que nunca lhe foi dita e não quem sempre se calou e falou uma única vez, mesmo que tenha sido falado da pior forma possível, afinal, sempre ouviu de maneiras muito piores.
É típico de pessoas assim, sempre cometerem os mesmos erros; se trairam uma vez, vão trair de novo; se espancaram, vão espacar; se roubaram, vão roubar; se foram estúpidos vão ser... Mas se quem antes ouvia e apanhava não mais suportar, a clientela tem de mudar.
Às vezes somos crucificadas, mas os fatos comprovam o que foi dito...
Eu sinto muito não falar tanta coisa que deveria ser dita. Ver tanta injustiça comigo e com quem amo, ser tão trouxa e otária às vezes. Mas, o que eu tenho a temer?! Acho que talvez me importe com a maneira que serei vista pelos outros, por essa corja ou por quem está longe de compreender o que se passa no mundo. Ou com as conseguências Isso é ridículo, mas é real. São coisas que não temos consciência que fazemos todos os dias. Talvez seja isso que tanto me assombra. Talvez seja meu lado ditador que me impede de romper com minhas próprias barreiras...
Algumas questões, bem próximas, estão me corroendo por dentro. Sinto não poder dizer e fazer mais, dar um basta em certas situações, fazer mais feliz quem eu amo, ajudar a se libertar de uma ditadura tão cruel, que lhe faz tão mal e que é a principal razão de sua decadência. Pessoas tão boas, mas ingênuas e dependentes, deveriam ter uma legião maior para ajudá-las. Eu sinto ser tão covarde às vezes; não conseguir fazer mais por quem precisa. Mas, eu tenho fé no amor de Deus, tenho certeza que ele irá me ajudar assim como aos que precisam.
Agora, depois desse texto, não julgue, apenas pergunte-se: eu estou de que lado?!