segunda-feira, 30 de julho de 2012

[Des]Amparo

Pois é... aconteceu...
O medo da minha mãe e a minha apreensão, talvez fossem um sinal de que as coisas não seriam tão boas assim!
Quando o médico me chamou em particular, depois de algumas horas dela ter entrado na sala de exame e começou a explicar, comecei a sentir mal, afinal ele havia acabado de dizer que tinha perfurado o duodeno dela no exame! Nessa hora eu já estava, tremendo e com batedeira. No momento em que disse que ela deveria ir pra uma cirurgia de emergência que a situação era grave, me senti um pouco mais aliviada, afinal, minha mãe estava viva!!! Da maneira como tudo estava sendo dito com cuidado, como ele se apresentou pra mim, a cara que ele estava, eu temia o pior! Mas a apreensão continuou, devagar, enrolando. Eu perguntei se era arriscado, ele disse que era caso de risco de morte. Que deveria ir imediatamente pro centro cirúrgico. Falou pra avisar familiares. Perguntei se poderia vê-la antes ou alguém da família, ele disse que sim.
Saí, sozinha, com as pernas bambas, mãos tremendo, coração saindo pela boca, pelo corredor do hospital lotado.
Eu precisava me focar. Era difícil, muito difícil! E nem um abraço eu dei nela antes dela entrar, nem um afago nos cabelos! Ela estava com tanto medo! Meu Deus, poderia ter sido a última vez que eu veria a minha mãe! E eu insisti pra que fizesse o exame que ela não queria fazer!!! Meus Deus....
Liguei pro meu pai, não conseguia falar [FILHA, FILHA!] [[PERAÍ...]] Engoli algumas vezes, respirei fundo:

- A mamãe foi fazer o exame e perfuraram o duodeno. Ela vai ter que ir pra uma cirurgia de emergência agora e é de risco. Vem pra cá. Eu to sentindo mal.

Ele falou que estava indo, tinha acabado de fazer o que estava fazendo e logo ia.

Fiquei lá sozinha. Fui pra fora do hospital. Voltei pra dentro. Como era difícil raciocinar. Liguei pra mais duas pessoas! Eu precisava falar com o meu irmão, mas não tinha créditos, só bônus. A Taty já estava indo pra lá, sem que eu desse a notícia, estava quase chegando, parece até que sentiu!

Fiquei na cadeira sozinha, chorando, pensando em tanta coisa que precisava fazer (como ligar pra um monte de gente), pensando em não ter dado um abraço, um beijo, um afago na minha mãe! Suas últimas palavras pra mim: "Vai comer, tem dinheiro na carteira". Até apavorada ela se preocupava mais comigo! E eu, nem um beijo (esse povo desse hospital poe pressão em tudo também nunca vi!). Mas, o engraçado é que me deu uma vontade enorme de dar um beijo nela na hora que estava entrando, fazer um carinho e dizer eu te amo antes de entrar enfim. Eu sempre faço essas coisas, mas foi diferente, sei la, senti uma coisa estranha por não ter feito, fiquei pensando um tempão nisso depois que ela entrou.

Fique ali, apavorada com a ideia de não ter mais meu chão, meu Amor maior!

Quando a vi antes de entrar acompanhei e em pensamento mandei boas energias e disse muito que a amava. Ela estava dormindo, sob o efeito da anestesia do exame.

Meu pai demorou...

Chegou mais tarde, quando ela já tinha entrado na cirurgia. Depois falei com meu irmão. Daí o Marcos chegou lá também.

A cirurgia demorou horas, mais de 5! O pior era que tinham tido umas 3, aí já viu né? O desespero era enorme, senti mal por várias vezes. Parecia que ia me dar um troço. Que bom que o Marcos e a Taty ficaram lá comigo a noite toda, até eu ir embora pra dormir um pouco. Ficamos nós três lá até ela descer pra recuperação. Durante essas horas orei tanto, mas tanto! Peguei a oração de Santo Expedido que ela tem na bolsa e que estava fazendo antes de entrar no exame, a fiz várias vezes, li o evangelho, orei, pedi, orei, mandei pensamentos pra ela, disse que amo muito! Felizmente deu tudo certo.

Preciso contar um fato que aconteceu durante esse meio tempo. Minha mãe adora um sementinha que vem de uma forma que nós jogamos pra cima e ela roda no ar, uma espécie de folha, só que mais dura. Quando a Taty me convenceu a descer na lanchonete pra tentar comer algo eu quis sentar na guia com a grama e olhei no chão procurando dessa sementinha. Não achei! Ela foi até a lanchonete e trouxe algo pra comer, quando eu olhei pra minha mochila que estava ao meu lado, tinha caído uma dessa semente em cima dela! Daí eu peguei e fui jogar, mas ela não voou. Quando fui pegá-la no chão achei mais algumas. Mas o fato, foi que caiu essa bem na minha mochila! Sei lá, nessas horas são coisas que nos fazem bem, de alguma forma minha mãe estava mais ainda alí.

Agora estou no hospital. Há vários dias estou aqui. Dormindo quase nada, desde um dia antes do post anterior, sofrendo demais por vê-la no estado que está: conversando pouco, sentindo muita dor, cheia de escaras pelo corpo (uma delas bem feia) e agora com catarro no peito (quase resfriando, com o nariz ruim. Nunca vou me perdoar se eu passar minha gripe pra ela!). E apesar disso, a gente ainda tem que aguentar a falta de humanidade de tanta gente, que nem deveria ser chamada assim, deveria ser chamada de COISA! Ou nem deveria ser mencionada, esquecida no tempo e no espaço, pra ver se aprendo o que é sofrer! Como que alguém pode querer causar mais sofrimento quando há tanta coisa já acontecendo?! Como? Que tipo de pessoa não é capaz de sentir compaixão em certas situação e ainda querer causar mais dor?!!! Mas essas COISAS não merecem nosso gasto de energia. Preciso focar totalmente na minha mãe e ajudá-la a melhorar, porque se eu estiver mal, sei que não vou ajudá-la e ela está precisando muito, está muito abatida, depressiva e desencorajada! Eu preciso passar força pra ela, apesar de tudo!

Minha mãe está irreconhecível pra mim. Não gosto de vê-la assim. Acaba comigo todos os dias, cada dia que entro nesse hospital e que saio dele também. Nunca imaginei que passaria por isso com ela! A gente imagina que pode passar, ainda mais no caso dela, tão frágil, mas nunca imagina de verdade, nem dessa forma que está sendo. Confesso, isso está acabando comigo, o sofrimento dela, em tudo que está passando...

Depois disso tudo, ainda teremos que ver esse cisto no pâncreas, motivo pelo qual ela foi fazer essa endoscopia com ultrassom (que é mais delicada). Eu perguntei para o médico e ele me disse que esse cisto está bem duro e com bastante coisa grudada nele. Quando fizeram a cirurgia pra reparar a lesão do exame, olharam ele, mas não tiraram poque ela não aguentaria, essa seria uma cirurgia de umas 8 horas. Ela está também com uma tela no abdômen, está tão sem massa muscular, muito menos gordura, que não conseguiam fechar o corte da cirurgia, daí coloram uma tela.

Que Deus nos proteja, a todos que passam por isso e tenha compaixão daqueles que nos ajudam a piorar também. Eles não sabem o que causam para nós (muito menos para si) principalmente nesse momento! DOR é algo que não descreve isso tudo. E CRUELDADE ou talvez MONSTRUOSIDADE também não!

Que o Dr. Bezerra de Menezes (Foi médico em vida, hoje cura espiritualmente e tem suas falanges espirituais), Santo Expedido e Nossa Senhora (Santos no qual minha mãe é tão devota) nos ajudem nesse momento.

Que Assim Seja.

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