quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Valores

Ontem estávamos em uma reunião e falávamos sobre Valores.
Justamente ontem.
Ontem que eu cai após sair do banho, estava correndo pra dar tempo de fazer tudo que tinha que fazer. Pra dar tempo de cumprir com todos meus compromissos. Dar tempo de estar presente e participativa em lugares e na vida de pessoas importantes para mim.
Para estar presente, para fazer minha parte, não por obrigação, mas por prazer. Nisso tudo, eu fui relapsa comigo e me machuquei. Cai após o banho, de joelho (apenas o esquerdo, aquele que tem duas tendinites, um ligamento estirado preso por algumas fibras e outro espessado e a cartilagem da patela que acabou de se curar de um condropatia), estirei o músculo da virilha e o músculo posterior, pois escorreguei pra frente, depois pra trás tentando me compensar e cai.
Minha saúde tem valor para mim. Não sou alguém que berra de dor, nem chora. Nem no meu acidente com uma fratura exposta no joelho eu assim agi, mas ontem...
Como estava dizendo, minha saúde tem valor para mim e muito! Mas eu já deixei muitas vezes de zelar por ela e tomei as consequências por isso, eu e quem está ao meu lado sabe muito bem.

O que leva as pessoas atribuirem o mesmo valor à coisas e situações tão distintas? Como alguém tão relapso pode ter o mesmo peso de alguém presente? Como situações trágicas podem desencadear indiferença? Como a dificuldade e sofrimento alheio podem causar repugnância? Como cuidados especiais podem causar inveja?
É fácil dar uma de moralista, falar das desgraças do mundo e dizer como a Humanidade está tão fria, indiferente a tudo que acontece. Mas e perto de si, como você age? Que parâmetros você usa pra medir que o sofrimento de quem está na notícia da televisão é maior do que de quem está ao seu lado???

QUE VALORES SÃO ESSES? QUE PESSOAS SÃO ESSAS? QUE MORAIS SÃO ESSAS?

QUE MORAIS SÃO ESSAS???

Há um ano e meio atrás quando tantos me viraram as costas eu me perguntei tudo isso e agora volto a me perguntar. Por que as pessoas faltam tanto com a caridade? O que as deixam com as feições como nunca tiveram?
Transfiguradas! É até assustador!
Nossa, dói tanto. Dói tanto fazer o possível e receber INDIFERENÇA. Falar assim: Olha, eu to no meu limite, eu posso até aqui, eu fiz o que eu pude, agora eu não consigo mais, você pode me ajudar?
Mas ninguém está disposto a AJUDAR. Todos querem ajuda, e do seu jeito. Sabem por quê? Por que ninguém é capaz de se ajudar! Quem dirá ajudar o outro!! Ninguém é capaz de se aceitar, de se tolerar, de se compreender, de se AMAR. Não há como exigir que se faça com o outro!
É tudo tão difícil, mas tão difícil. A gente batalha tanto, tanto! Poxa vida! Eu não to fazendo cena, eu não to fazendo graça!
Eu nunca falei isso pra ninguém, eu nunca entreguei os pontos, nem pra mim mesma eu falei que era difícil, mas agora eu admito, tá difícil pra mim. Eu agradeço à Deus por não ter tido consequências piores no meu acidente, mas está muito difícil conviver com a ideia de que meu ligamento cruzado posterior não vai voltar ao normal nunca mais, vai ficar estirado, preso por algumas fibras, que ele pode se romper à qualquer momento, que posso fazer uma cirurgia à qualquer momento por isso, que ontem, naquele tombo, eu posso até ter rompido (há grandes chances), que não aguento mais não poder arrumar qualquer emprego porque não posso ficar muito tempo em pé ou mesmo sentada, que essa folga grande no meu joelho fica me atrapalhando demais, essas cicatrizes, essa patela enorme e disforme me incomodam, que eu quase caio o dia todo, que não sou considerada uma deficiente física, mas tenho muitas limitações, mas que as pessoas não fazem ideia de quantas elas são e ficam me julgando todo vez que acontece algo ou que estou morrendo de dor, que quando eu entrego os pontos muita gente vira a cara e mostra quem verdadeiramente é, de que não aguento mais ver como os Seres Humanos são (talvez isso seja uma das coisas mais difíceis), não aguento mais muito trabalho pra pouco resultado, eu trabalho uma coisa na fisio, dai piora outra, trabalho outra, piora outra e fico nessa, trabalhando, arrumando, descobrindo novas coisas. Não aguento mais fazer tanto e não ter reconhecimento e ainda ter o desprezo nos olhares, nos c-o-r-a-ç-õ-e-s! Se essas pessoas soubessem o que foi preciso eu fazer fisicamente, financeiramente e psicologicamente...
Eu sei que preciso continuar com resignação, mas nem sempre é fácil. Eu não sou Chico Xavier, eu sou imperfeita poxa! Eu preciso de ajuda como todo mundo!
Eu não estou fazendo tantas coisas pelos outros. Estou fazendo por tudo que tem valor para mim. E algumas pesssoas realmente tem valor para mim! E pelo o que elas são!
Mas que Ser Humano é esse que sente tanto prazer em DESPREZAR aquele que não merece ser desprezado, aquele que está ao seu lado, aquele que está pra caminhar junto e que muitas vezes precisou de ajuda? Que tantas vezes se dispôs a ajudar e tantas vezes ajudou?
Chega, não vou viver mais por MESQUINHARIA. Eu não preciso disso!

Eu tenho o devido VALOR, por tudo que sou e por tudo que faço. Se alguém assim não enxerga, me desculpe, mas a culpa não é minha!

Gabriela Grecco
25/08/2011

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