Mais uma vez vou fazer um post sobre o Evangelho no lar. O ensinamento que lemos ontem no "Evangelho Segundo o Espiritismo" é do capítulo XIII - Que a vossa mão esquerda não saiba o que dá a vossa mão direita - nas instruções dos espíritos o que caiu pra gente ler foi A PIEDADE.
O Espírito MICHEL, que deu esse ensinamento através de um(a)médium em Bordéus em 1862, começa falando que a piedade é a virtude que mais nos aproxima dos anjos; é a irmã da caridade, que nos conduz até Deus. A piedade está em nós quando nossos corações se comovem diante das misérias e dos sofrimentos de nossos semelhantes. No momento em que restituímos a esperança e a resignação de alguém a sensação de paz, de preenchimento, de conforto, é indescritível dentro de nós; é algo que nos dá um prazer leve, porém profundo e verdadeiro; diferente dos prazeres estimulados pelos instintos (não sendo de tudo ruim), no qual liberam substâncias que mais acalmam nosso sedento corpo que o espírito (mas que tem também sua importância). Embora essa sensação seja verdadeira, como diz Michel, ela vem com um certo amargor, porque nasce ao lado da infelicidade. Quantas vezes nos sentimos comovidos e até com um aperto no peito ao ver uma injustiça na rua, uma notícia trágica na tv ou o sofrimento de alguém tão próximo? Isso é a piedade.
Durante o estudo o Marcos e eu concordamos que a piedade, assim como o amor (pois ela é um de seus braços), tem níveis e à medida que nos comovemos e nos envolvemos, essa piedade fica mais profunda e transformadora.
Vou explicar: de início, achamos que a piedade se apresenta para nós quando nos tocamos com algo na tv, como uma notícia ou com a tragédia de um conhecido, mas é algo que nos toca rapidamente e passa. Num segundo momento, mais desenvolvida, a piedade nos toca e faz perceber que de alguma forma somos responsáveis indiretamente pelo sofrimento de alguém, mesmo quando distante - como o consumo da carne que faz sofrer e mata bilhões de animais todos os anos; quando compramos um produto de uma marca que escraviza pessoas para produzir; as matas desmatadas pelo nosso consumo inconsequente... O terceiro estágio seria o de perceber essa responsabilidade e ação indireta e se modificar por isso - pessoas que se tornam vegetarianas pelo sofrimento dos animais, desmatamento das florestas, consumo de água desenfreado nessa produção; outras que deixam de comprar as marcas que escravizam seus trabalhadores e passam a comprar de cooperativas, artesãos, artistas ou de marcas mais conscientes; etc. Em um quarto momento, somos piedosos quando fazemos algo indelicado com alguém diretamente, machucamos, tendo uma justificativa ou não - quando falamos coisas que machucam, somos grosseiros, abusamos da vontade de alguém, ou simplesmente não damos a devida atenção a quem merece; algumas pessoas deixam de fumar em locais onde também não há fumantes ou até param de fumar - passamos então a perceber nosso erro, somos piedosos com quem machucamos e em algum momento nos desculpamos. O quinto momento e mais difícil, onde mostra que estamos no caminho certo para amar verdadeiramente, é quando somos piedosos com quem tanto nos machucou - deixamos de lado o orgulho e egoísmo e entendemos, mesmo que parcialmente, a razão daquela pessoa ter feito algo conosco; além de não nos sentirmos feridos, perdoamos de coração e compreendemos a razão daquela pessoa, tentando de alguma forma ajudá-la e orientá-la, isso não quer dizer que sejamos otários ou bobos, Jesus mesmo, que também dava muitos "fumos" em tantas pessoas, jamais se sentiu ofendido, nem deixou de amar e ajudar.
Esses estágios e exemplos que dei, foi parte da conclusão que nós tiramos do estudo, o espírito Michel não disse isso no evangelho.
De uma forma muito clara e linda o espírito diz que a piedade bem sentida, é amor! O amor é devotamento; o devotamento é o esquecimento de si mesmo; e esse esquecimento, essa abnegação em favor dos infelizes, é a virtude por excelência, a que praticou em toda sua vida o Cristo!
Por isso chegamos à essa conclusão, porque a piedade acima de tudo é amor! E o amor também é algo que é desenvolvido e depurado. Não podemos esquecer que ela também está diretamente ligada ao nível de consciência de cada um. À medida em que fazemos o bem, não nos dá mais prazer fazer o mal, nosso prazer verdadeiro passa a ser em fazer sempre o bem. E acredite, fazemos o mal muitas vezes ao dia; o simples fato de nos omitirmos, não fazermos nem o bem, nem o mal é fazer o mal, é contribuir para que ele seja feito. E assim é também com a piedade. Quanto mais nos atentarmos para o que realmente vale na vida, mais vamos ser piedosos.
Como fazemos isso? Como desenvolvemos essa piedade? Temos que começar de onde paramos, não adianta querer dar o passo maior que a perna! Mas como? Podemos começar a ver o sofrimento do outro sem julgamento, deixar de ver tanta merda na tv para ler um livro de conteúdo enobrecedor, começar a fazer coisas chatas de início, mas que nos engrandecem tanto e ficam prazeirosas!; deixar de beber um final de semana ou um dia para ir à uma igreja, centro espírita ou um asilo, um orfanato; parar de contar e de rir de piadas preconceituosas que abaixam tanto nossa vibração; deixar de entrar um dia na internet e ir visitar um parente, um amigo que não vemos há tempos; ao invés de comer cada um em um canto da casa e em horários diferentes, vamos reunir a família na mesa, conversar o que geralmente não conversamos!; não mandar mensagem de texto, mas ligar para aquela pessoa; não somente encaminhar e-mail, mas enviar um e-mail pessoal e responder aos e-mails que nos são enviados; se calar quando dá vontade de explodir e falar tanta merda; tirar pensamentos ruins da cabeça, deixar de alimentá-los e cantar ou ouvir uma música; enfim, os exemplos são inúmeros e todos eles mostram que para sermos piedosos, precisamos deixar de lado nosso orgulho e egoísmo, prazeres superficiais, vícios tão profundos! Sim, tudo isso que fazemos é vício... e dos brabos!
Vou encerrar com o trecho final do ensinamento, ele é grande, mas por favor, vale a pena ler:
"Quanto a piedade está longe, entretanto, de causar a pertubação e o aborrecimento com os quais se apavora o egoísta! Sem dúvida, a alma experimenta, ao contato da infelicidade alheia, e voltando-se para si mesma, um abalo natural e profundo que faz vibrar todo o vosso ser e vos afeta penosamente; mas a compensação será grande quando vierdes a restituir a coragem e a esperança a um irmão infeliz que se emociona com a pressão da mão amiga, e cujo olhar, ao mesmo tempo úmido de emoção e de reconhecimento, se volta docemente para vós antes de se fixar no céu agradecendo por lhe haver enviado um consolador, um apoio. A piedade é a melancólica mas celeste precursora da caridade, essa primeira virtude, da qual é irmã e cujos benefícios prepara e enobrece" - Michel, Bordéus, 1862.
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